Imagem Cinematográfica: A dialética da aproximação – distanciamento

De acordo com as reflexões de Philippe Dubois, pesquisador do campo da estética da imagem e da figura, a relação homem/máquina é mensurada justamente através do tensionamento destes dois pólos, contrariando uma visão positivista de que a modulação entre maquinismo e humanismo se daria de maneira contínua progressiva, ou seja, à medida que a máquina evolui haveria assim a subtração gradual da interferência humana no processo de produção de conhecimento. Ao contrário, a dialética entre estes pólos é sempre elástica, variando de acordo com as características de cada dispositivo.

Partindo desta assertiva, e considerando a mecanicidade do registro fotográfico, por exemplo, podemos pensar o cinema como uma máquina capaz de recuperar a subjetividade do sujeito, na medida em que somente é possível pensar na imagem cinematográfica através da relação que esta estabelece com os signos da experiência do artista.

Blow-Up (Michelangelo Antonioni)

Blow-Up (1966). Direção: Michelangelo Antonioni

Por outro lado, é preciso ponderar o registro fílmico de maneira distanciada, afinal, o produto resultante da relação híbrida entre homem/máquina jamais poderá ser tomado como um reflexo do Real. Na ambição do registro temporal, a mimese fílmica nos engana com a ilusão de um universo que nos é familiar, mas que a todo momento nos escapa.

A Conversação (Francis Ford Coppola)

A Conversação (1974). Direção: Francis Ford Coppola

Esta relação antagônica de aproximação/distanciamento que o cinema engendra, sobretudo toda vez que o espectador é tomado por arroubos do tipo “o cinema é a vida mesma”, serve de comentário para três obras cinematográficas, que dialogam entre si: Blow-Up – Depois Daquele Beijo (Blowup – 1966), de Michelangelo Antonioni, A Conversação (The Conversation – 1974), de Francis Ford Coppola e Um Tiro Na Noite (Blow Out – 1981), de Brian De Palma.

Um Tiro Na Noite (Brian De Palma)

Um Tiro Na Noite (1981). Direção: Brian De Palma

Em todos os três longas-metragens, os protagonistas tentam reordenar a realidade a partir do registro maquínico, que menos do que desvelar o tempo real, os aproximam do tempo do registro. Se em Blow-Up o fotógrafo de moda estabelece uma relação fetichista com a ampliação de seus registros fotográficos, o detetive especialista em escutas eletrônicas de A Conversação, ao isolar as faixas sonoras, é tomado pela euforia ilusória de um tempo redescoberto, enquanto que o sonoplasta de Um Tiro Na Noite vai além, combinando fotografia e som, na tentativa de forçar a realidade imaginada.

Retomando o próprio Dubois, “as telas se acumularam a tal ponto que apagaram o mundo. Elas nos tornaram cegos pensando que poderiam nos fazer ver tudo. Elas nos tornaram insensíveis pensando que poderiam nos fazer sentir tudo”.

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